Aquele cantinho especial de aconchego, conforto, onde você se sente você mesmo e pensa ser o melhor lugar do mundo depois de voltar de viagem. Ambiente tão disputado por irmãos e defendido dos pais, em que a privacidade e o aconchego falam mais alto. Sim, estamos falando do quarto.
Para o psicanalista Juan Brandt, o quarto é o lugar para estar consigo mesmo e se sentir bem. É, ainda, um reduto e a última proteção que as pessoas encontram, pois representa a complementação de dois extremos da vida: a paz e o prazer.
Como ele deve ser?
De acordo com o professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB), Frederico Flósculo, o quarto ideal é aquele onde você descansa, estuda, namora e tem a própria higiene pessoal. Obviamente, não há manual a ser seguido. Entretanto, existem algumas recomendações a fim de proporcionar mais conforto e praticidade no dia a dia.
Em primeiro lugar, a porta de entrada do ambiente não deve bater na cama ou nos móveis. É muito importante garantir um bom espaço livre para circulação. Se for suíte, a porta deve estar alinhada à do banheiro. Já as tomadas devem estar posicionadas de forma que os eletroeletrônicos possam ser usados e guardados de forma agradável.
Boa ventilação e iluminação são imprescindíveis. Portanto, invista em janelas grandes com proteção contra o excesso de sol e vento. Para isso, é preciso uma boa cortina ou persiana. Uma nota fundamental é a de que a janela deve sempre ficar na parede de maior dimensão e a cama deve ser posicionada, preferencialmente, de forma paralela à mesma.
Para a segurança de idosos, é preciso ter um projeto de iluminação diferenciado e pontos de luz nos cantos do quarto e do corredor. Piso de fácil limpeza, além de antiderrapante, e barras de apoio nas paredes também são fundamentais.
É hora de decorar
Todo quarto tem um quê do dono e remete às preferências ao ser personalizado de alguma maneira. O psicanalista Juan Brandt afirma, porém, que a decoração e cores usadas podem não necessariamente revelar a personalidade de uma pessoa. “Pode-se ter muitas cores vivas e alegres no quarto, mas, na verdade, a pessoa as utiliza como um confronto ou escape para encobrir o que realmente sente”, explica.
A maioria das pessoas se sente mais confortável com cores próximas à cor de pele. Para tanto, ocre, bege, creme, tons terrosos e neutros podem ser usados à vontade por serem pouco agressivos aos olhos. Outras cores entram como alterações ao longo da vida, como homenagens aos sentimentos. “Quanto a isso, a cultura brasileira é bem conservadora. Aqui é pouco usual mudar muito as cores, mas é bom fazer renovações”, ressalta Flósculo.
A decoração em si vai de acordo com o estilo pessoal. Os objetos que compõe o quarto devem ser ‘a cara da pessoa’ e evocar emoções. Afinal, lembranças são sinal de saúde mental. “Os enfeites, por assim dizer, servem como um feedback biológico e social. É preciso se alimentar de novo do que te faz feliz”, complementa.
Um fato curioso é o de que, segundo Flósculo, meninas de classes sociais menos favorecidas têm mais liberdade ao decorar o quarto. “Já os quartos da classe alta são tremendamente padronizados”, diz.
Um pouquinho de história
Nem sempre os quartos foram do jeito como os conhecemos hoje. Os quartos ocidentais não têm nem 200 anos de existência. Para o professor de arquitetura, uma pessoa pode considerar esses ambientes tão modernos quanto aviões, pois, antigamente, a sociedade em geral não tinha quartos individuais.
“Eles eram privilégio da aristocracia que queria uma separação do povo, realmente mostrar superioridade em relação aos outros. Quem não era da classe social mais alta compartilhava tudo e a casa girava em torno de uma coisa só, como a lareira, por exemplo”, comenta Flósculo.